Grandes pilhas de papel impediam que ele visse que seu computador permaneceu ligado durante a noite. Ao mexer no mouse, a luz do monitor penetrou em seus olhos e as pálpebras se contraíram como lagartas atingidas por uma bela quantidade de sal.
Um gole no café e um palavrão logo em seguida. A metáfora da lagarta volta. A alta temperatura da bebida fez sua língua borbulhar de dor e seus dentes apertaram o lábio inferior, que já tinham as marcas dos seus dentes (o que leva a crer que esse episódio não era novidade em sua vida). Ainda são nove e quinze da manhã e lhe resta um longo dia pela frente. A melancolia de uma terça-feira de outono faz qualquer ser-humano bocejar e querer voltar para casa o mais rápido possível.
Os minutos passam, mas ele se sente uma daquelas árvores centenárias gigantes, enraizado na sua cadeira e vendo anos se passando em frente aos seus olhos. Sua mente está na sua casa, no seu sofá e na sua TV. Ele estava ansioso para se ver na tela de 40 polegadas.
Como muitos outros, ele tinha se tornado no que a tevê tanto quer. Um fantoche. Um ser sem vontade, sem senso crítico aguçado. Sem vida. Ela te mostra como você deve ser. Ele tinha apenas a sua rotina, como a programação de redes televisivas. Seus horários eram controlados e nada saía daquela forma.
O homem continuava parado em frente ao computador. Apenas seus olhos e suas mãos se movimentavam. Ainda são nove e meia.
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