terça-feira, 17 de setembro de 2013

Nove e Meia

Caminhou cedo pela manhã. Em passos lentos e descoordenados, chegou ao seu destino. O caminho parecia interminável (come ele queria que fosse verdade). No hall de entrada, pegou um copo descartável e o encheu de café preto e amargo. Longos jatos de adoçante mudaram o gosto do café. A amargura permanecia em seus olhos. Sem muito o que escolher, subiu as escadas e sentou em frente à sua mesa. São nove e dez da manhã.

Grandes pilhas de papel impediam que ele visse que seu computador permaneceu ligado durante a noite. Ao mexer no mouse, a luz do monitor penetrou em seus olhos e as pálpebras se contraíram como lagartas atingidas por uma bela quantidade de sal. 

Um gole no café e um palavrão logo em seguida. A metáfora da lagarta volta. A alta temperatura da bebida fez sua língua borbulhar de dor e seus dentes apertaram o lábio inferior, que já tinham as marcas dos seus dentes (o que leva a crer que esse episódio não era novidade em sua vida). Ainda são nove e quinze da manhã e lhe resta um longo dia pela frente. A melancolia de uma terça-feira de outono faz qualquer ser-humano bocejar e querer voltar para casa o mais rápido possível.

Os minutos passam, mas ele se sente uma daquelas árvores centenárias gigantes, enraizado na sua cadeira e vendo anos se passando em frente aos seus olhos. Sua mente está na sua casa, no seu sofá e na sua TV. Ele estava ansioso para se ver na tela de 40 polegadas.

Como muitos outros, ele tinha se tornado no que a tevê tanto quer. Um fantoche. Um ser sem vontade, sem senso crítico aguçado. Sem vida. Ela te mostra como você deve ser. Ele tinha apenas a sua rotina, como a programação de redes televisivas. Seus horários eram controlados e nada saía daquela forma. 

O homem continuava parado em frente ao computador. Apenas seus olhos e suas mãos se movimentavam. Ainda são nove e meia.

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